OS PROBLEMAS DA CIDADE

Fórum aponta custo de vida e déficit de servidores como desafios da segurança pública em Gramado

Enquanto na Polícia Civil deveria haver 40% a mais de efetivo, no presídio de Canela um policial penal precisa cuidar de 58 apenados

Publicado em: 29/09/2023 10:49
Última atualização: 18/10/2023 20:22

O que significa qualidade de vida para você? Conseguir pagar as contas, ter uma moradia própria? Para muitos e, principalmente, para aqueles que escolheram Gramado como a cidade de sua nova residência, a resposta diz respeito à segurança pública.

Promotor de Justiça Max Guazzelli, capitão Montini e delegado Gustavo Barcellos Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

O segmento é visto como "de primeiro mundo" no município. Isso se deve aos índices criminais mais baixos comparados às cidades próximas e efetividade nos resultados, por meio de investigações e inteligência, da Brigada Militar e Polícia Civil.

Entretanto, a cidade abriga mais de 8 milhões de visitantes ao ano e possui uma estrutura para 50 mil moradores. O crescimento, tanto populacional, quanto turístico, traz consigo os problemas de "cidade grande". "Gramado se desenvolveu, para o bem, mas também trouxe o oportunista, o criminoso, os problemas sociais. Quantos homicídios evitamos, aqui não tem guerra de facção, devido ao trabalho que é exercido", lembra o delegado titular da Polícia Civil de Gramado e delegado regional, Gustavo Barcellos.

Para trabalhar esse assunto e entender os desafios da área, a Câmara de Vereadores realizou, na terça-feira, dia 26, um fórum.

Participação

O evento contou com as falas do delegado Barcellos, do comandante da Brigada Militar no município, o capitão Marcelo Montini, e do promotor de Justiça da 2ª Promotoria, Max Guazzelli.

Montini trouxe ao público presente um pouco dos números da polícia militar até o dia 25 de setembro. Conforme o comandante, foram mais de 12 mil ligações ao 190. A quantidade de furtos teve diminuição, passando de 392, de 2022, para 267 até setembro deste ano.

Já os dados relativos às prisões são equivalentes praticamente ao ano passado. Enquanto em 2022 foram 571, em 2023 já são 565. O número de apreensões de tráfico de drogas praticamente quadruplicou: de 63 para 213.

Déficit

Mas parte dos índices revelados no evento e que preocupam diz respeito ao déficit de servidores em todos os setores da segurança pública.

Na Brigada Militar, Montini disse que há um valor de 32,55% a menos do que seria o ideal. "Temos 32,5% de déficit na Brigada, ou seja, trabalhamos com um terço a menos do que deveríamos trabalhar, é uma lacuna bem grande", revela. Conforme Barcellos, o dado se torna ainda maior quando se fala em Polícia Civil.

"Eu asseguro que é bem maior, deveríamos ter, no mínimo, 40% a mais do efetivo. A gente precisa de estrutura para desenvolver nosso trabalho, principalmente de investigação, de repressão", comenta.

Quem participou do debate também foi a diretora do Presídio Estadual de Canela, Cléria Diel, que acompanhou as falas. Ela trouxe índices da polícia penal.

"Temos vinculados 330 internos, 27 monitorados, 130 em regime domiciliar e 176 em regime fechado. Um número que altera diariamente. De janeiro até hoje, foram recolhidos 405 presos. Nossa margem de lotação é de 90 presos. Estamos em quase 200% de superlotação", afirma.

O número de servidores extrapola o permitido em lei. "Hoje, nós temos 20 agentes penitenciários para atender um mês de 30 ou 31 dias. Só que são 20 agentes que não trabalham juntos, e, sim, em escala. Ao invés de termos cinco presos por agente, eu tenho 58 presos por agente. É absurdo, é dramático. Precisamos nos questionar como vamos nos unir e resolver essas problemáticas", indaga a diretora.

Cléria ainda relembra o trabalho após as prisões. "Nós temos um dever de fazer o trabalho de correção. O que acontece após o registro, o criminoso evapora? Não, ele vai parar no presídio e, por vezes, por muitos anos. De que forma vamos trabalhar com a cabeça desse indivíduo? E de que forma o servidor vai ter condição e atender a essas demandas?"

"Gramado é caro"

O custo de vida alto para morar em Gramado e Canela afasta não apenas trabalhadores dos setores turísticos, mas da segurança pública também.

"O policial para ficar aqui precisa de ajuda. Gramado é caro, morar em Gramado é caro. Ele acaba trabalhando aqui, e morando aos arredores. Embora tenha todo o comprometimento, com a função dele e a cidade, ele não está inserido ali, não está no bairro para encontrar alguém no mercado e ver um feedback, desde o problema mais simplório, de som ou uso de drogas. Porque ele não está morando aqui, ele não consegue, é caro demais, e a gente precisa trazer ele para cá", enfatiza Barcellos.

A diretora do presídio reitera a mesma situação. "Poderia estar morando em Canela ou Gramado, contribuindo para ainda mais segurança. Mas moro em outra cidade, porque, com certeza, temos que considerar o custo de vida, que é elevado, é diferente."

O promotor afirmou sobre a necessidade do comprometimento por parte do Executivo, mesmo a segurança sendo uma competência estadual. "Nós perdemos policiais para cidades que oferecem o auxílio-moradia três, quatro vezes superior ao que oferecemos. Quem vai ficar em Gramado podendo ficar em Igrejinha, com aluguéis mais em conta e auxílio de moradia maior?"

Autossuficiência para o Mocovi

Todas as autoridades reafirmaram a necessidade do Mocovi precisar ter uma autossuficiência. "Essa iniciativa é muito importante, para que possamos estruturar o Mocovi, para ter recursos. Para quando eu precisar, ter combustível e pneu em boas condições, e o meu policial transitar em segurança", frisa Barcellos.

"Hoje dependemos muito de recurso. O Mocovi é fundamental e sabemos da dificuldade da burocracia estatal. Temos que ter repasses recorrentes, seja do Executivo, seja das entidades empresariais", fundamenta Max Guazzelli.

Tecnologia e mapeamento

“A gente precisa de câmeras eficientes, que preencham todo seu ângulo. Mas, para isso, precisa ter um policial militar para verificar ou civil para fazer uma análise daquelas imagens”, argumenta o delegado. Uma ação também é recomendada pelo Tecnologia e mapeamento promotor.

“Temos que mapear todos os lugares de maior venda de drogas, e, neles, trabalhar com prevenção. Quem dera replicar o trabalho da Pama no Altos da Viação Férrea. Temos um exército chamado professores, vamos capacitar nossa rede escolar”, cita Guazzelli.

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